Sobre vergonha da sociedade atual: estupro e assédio.

17:43

Para mulheres;

Um dia você já ouviu de alguém a expressão "Senta direito, que nem menina". Já ouviu um "Fiu, fiu" de pedreiro quando passava na frente da obra para ir em qualquer lugar. Já esteve esperando o ônibus e percebeu que alguns motoristas dos carros que passavam na rua te acompanhavam com o olhar. Já pensou "Se eu fosse homem eu poderia fazer isso e ninguém ia achar ruim". Já desceu do ponto de ônibus de noite com medo e/ou pediu para alguém ir te buscar, por que ir sozinha dava medo. Já teve medo de andar com moto-taxi desconhecido, já teve medo de ir pra algum canto com roupa curta, ou até trocou de roupa por ser curta demais. Todas nós, mulheres, já tivemos alguma ou todas essas sensações um dia.

Estupro coletivo. Até esta semana as vezes que ouvi essa expressão era para tratar do Caso Queimadas, onde 10 homens estupraram cinco mulheres e mataram duas após serem convidadas para uma festa de aniversário. O caso, que tomou proporção nacional na época, chocou a Paraíba como um todo e principalmente todas nós, mulheres, que sentimos a dor da família e a raiva de ter visto um caso desse em pleno século XXI. 

Eis que nesta semana volto a ouvir o termo que tanto me assusta e esfarelou minha alma. "Estupro Coletivo". Dessa vez não era pra falar de como anda os estupradores e assassinos de Isabela e Michele, mas para um novo caso. Frio na espinha. Mais de 30 homens e uma adolescente de 16 anos. Nessa hora eu quis sumir do mundo. Olhei para meu filho e jurei para mim mesmo que eu o que eu puder fazer para educa-lo a respeitar uma mulher, farei. Me recusei a ler algumas matérias sobre o caso, mas não resisti. A cada linha das matérias que lia fui ficando mais horrorizada. Pensei na minha mãe, na minha irmã que quer vir a pé da escola para fazer caminhada, pensei nas minhas primas, tias, amigas e em mim. Todas nós somos alvo em potencial. Socorro.



Ao saber do Caso Beatriz lembrei das vezes que pensei que sendo homem eu não passaria por situações constrangedoras. Quando contei que estava trabalhando como assessora em um time de futebol para um familiar a primeira coisa que ouvir no lugar do "parabéns" foi "Tome cuidado, lá só tem homens e você é uma menina. Preste atenção se eles tentarem fazer algo com você". E depois veio as tradicionais piadas sem graça que sempre questionavam se eu realmente sabia de futebol, ou estava ali apenas para aparecer. Ao saber do Caso Beatriz lembrei da vez que fui para o curso de inglês com um short em uma altura normal e um velho nojento ficou olhando fixamente para minhas pernas. Quis morrer. Cheguei em casa e doei o shorts de tanta raiva que fiquei. Lembrei das vezes que tive medo de andar de moto-taxi de noite, lembrei das vezes que minha mãe me falou para não tomar bebida de estranhos por que poderiam me dopar e fazer uma maldade. Lembrei do tanto que mulher sofre por ser simplesmente mulher.

Roupas curtas, modo de falar, se estar em casa, na festa, na igreja, se fala mais de um idioma ou se nunca foi pra escola. Se é solteira ou casada, se é branca ou preta, se tá sozinha ou acompanhada. Nada, absolutamente nada dá o direito de alguém assediar outra pessoa. Ao saber do que aconteceu com Beatriz eu tive vontade de chorar. Senti vergonha da sociedade em que vivo e mais vergonha ainda das pessoas que colocaram a culpa do estupro na moça violentada. Senhor, que mundo estamos? Tem piedade de nós.

Nunca, jamais pensei em escrever de algo desse tipo aqui no blog. Mas o que aconteceu com Beatriz pode acontecer com qualquer uma de nós enquanto nossa sociedade naturalizar e não tiver punição severa para esse tipo de crime. E se você sofre algum tipo de assédio, seja na escola, em casa, no trabalho, ligue 180 e faça uma denuncia. 


Você também poderá gostar

0 comentários